Gilmore Girls: a relação nada fictícia com o jornalismo

Terminei de assistir à série Gilmore Girls, e a minha reação foi a de uma espectadora boquiaberta por não acreditar que acabou daquele jeito. Fiquei com várias perguntas na cabeça e sonhando com uma (improvável) continuação para colocar os pingos nos is. Afinal, nada seria mais justo, não é mesmo?

No entanto, resolvi escrever sobre a série, pois ela foi bastante especial para mim nesse quase um ano em que me acompanhou — assisti às sete temporadas bem devagar porque não queria que acabasse logo.

Apesar de não ter gostado muito de “Um ano para recordar”, devido a algumas narrativas desconexas, Gilmore Girls continua sendo a minha série preferida.

Não sei dizer quantas foram as vezes em que dei gargalhada ou que me acabei de chorar assistindo a algum drama vivido pela Rory, pela Lorelai e, principalmente, pelas duas juntas. Ah, e o que falar da Lorelai e do Luke? 

Gilmore Girls
Luke e Lorelai / Gilmore Girls / Reprodução Internet

No geral, gosto muito do humor inteligente da série, das referências que ela traz (literárias e musicais, principalmente), da forma como apresenta os desafios de uma mãe solo que não se dá bem com os pais e dos conflitos vividos por uma família que, assim como qualquer outra, tem os seus problemas.

Mas, dentre outras coisas, o que mais me chamou atenção foi a relação da Rory com o jornalismo. Afinal, esta quem vos escreve também é jornalista.  

Luke, Lorelai e Rory / Gilmore Girls / Reprodução Internet

Isso porque o caso de amor e ódio da Rory com o jornalismo foi um gatilho para mim.

A começar pelo sonho que surge ainda na faculdade de se trabalhar em um grande veículo de comunicação, mas que posteriormente é colocado em cheque ao conseguir um estágio onde não te valorizam e te fazem duvidar se está mesmo na profissão “correta”.

Tudo isso somado à uma vontade avassaladora de desistir e de fazer dar certo ao mesmo tempo. Não existe uma personagem que faça mais sentido para mim.

Gilmore Girls
Rory Gilmore / Gilmore Girls / Reprodução Internet

Por diversas vezes, sofri junto com a Rory em seus momentos conflituosos com o jornalismo.

Como na cena em que ela fica alguns minutos sozinha na varanda da Lane e passa rapidamente da comemoração ao pânico por conseguir o primeiro emprego como repórter, deixando toda a sua insegurança vir à tona em um ataque de ansiedade que a faz pensar que talvez não seja boa o suficiente. Quantas vezes já me senti assim? 

Outro exemplo é estar prestes a terminar a faculdade, não saber o que o futuro lhe reserva, não ter para onde ir, nem saber o que fazer e sentir como se um grande abismo a esperasse logo ali na frente. Qualquer semelhança, não é mera coincidência. 

Gilmore Girls
Rory estudando / Gilmore Girls / Reprodução Internet

Além disso, a dedicação aos estudos, a paixão compulsiva pelos livros (me identifico totalmente), o envio de dezenas de currículos aos mais diversos veículos de comunicação e todo o sacrifício para se tornar uma grande profissional, e no final das contas ter de voltar para casa e ser editora de um jornal local que nem salário paga. Existe tanta realidade na ficção…

Gilmore Girls
Gilmore Girls / Reprodução Internet

Mas Rory e eu também sabemos o quão incrível é trabalhar com o que se ama. Ser paga para escrever, então, chega a ser inacreditável. Sem falar na inexplicável inspiração que nos toma por inteiros quando escrevemos sobre o que gostamos. É como se os deuses da escrita baixassem o Franz Kafka ou o próprio Nietzsche na gente. Obs.: só eu fiquei curiosa para ler o livro que a Rory estava escrevendo?

Gilmore Girls
Rory / Gilmore Girls / Reprodução Internet

Ou seja, a série só confirma que mesmo se preparando para trilhar o caminho que sempre sonhou, seu destino está condenado ao acaso: quando tudo indica que algo vai acontecer, pode ocorrer justamente o contrário. Preparar-se para Harvard, e ir parar na Yale, por exemplo.

Confesso que essa evidência à imprevisibilidade é justamente o que mais gosto na série, pois é o que mais se assemelha à vida real.

Gilmore Girls
Rory e Jess / Gilmore Girls / Reprodução Internet

Contudo, a pergunta que não quer calar: se eu escolheria outra profissão sabendo de todos os percalços que o jornalismo oferece? Não mesmo. Apesar de suas dores e delícias, seguiria escolhendo, honrando e amando a minha profissão. O jornalismo tem as suas glórias.

Só espero não chegar aos 32 anos da mesma forma que a Rory (rindo de nervoso). 

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