Terminei de assistir à série Gilmore Girls, e a minha reação foi a de uma espectadora boquiaberta por não acreditar que acabou daquele jeito. Fiquei com várias perguntas na cabeça e sonhando com uma (improvável) continuação para colocar os pingos nos is. Afinal, nada seria mais justo, não é mesmo?
No entanto, resolvi escrever sobre a série, pois ela foi bastante especial para mim nesse quase um ano em que me acompanhou — assisti às sete temporadas bem devagar porque não queria que acabasse logo.
Apesar de não ter gostado muito de “Um ano para recordar”, devido a algumas narrativas desconexas, Gilmore Girls continua sendo a minha série preferida.
Não sei dizer quantas foram as vezes em que dei gargalhada ou que me acabei de chorar assistindo a algum drama vivido pela Rory, pela Lorelai e, principalmente, pelas duas juntas. Ah, e o que falar da Lorelai e do Luke?
![Gilmore Girls](https://gidelabeneta.wordpress.com/wp-content/uploads/2023/02/gilmore-girls-10.jpg?w=984)
No geral, gosto muito do humor inteligente da série, das referências que ela traz (literárias e musicais, principalmente), da forma como apresenta os desafios de uma mãe solo que não se dá bem com os pais e dos conflitos vividos por uma família que, assim como qualquer outra, tem os seus problemas.
Mas, dentre outras coisas, o que mais me chamou atenção foi a relação da Rory com o jornalismo. Afinal, esta quem vos escreve também é jornalista.
![](https://gidelabeneta.wordpress.com/wp-content/uploads/2023/02/gilmore-girls-15-2.jpg)
Isso porque o caso de amor e ódio da Rory com o jornalismo foi um gatilho para mim.
A começar pelo sonho que surge ainda na faculdade de se trabalhar em um grande veículo de comunicação, mas que posteriormente é colocado em cheque ao conseguir um estágio onde não te valorizam e te fazem duvidar se está mesmo na profissão “correta”.
Tudo isso somado à uma vontade avassaladora de desistir e de fazer dar certo ao mesmo tempo. Não existe uma personagem que faça mais sentido para mim.
![Gilmore Girls](https://gidelabeneta.wordpress.com/wp-content/uploads/2023/02/gilmore-girls-6.jpg)
Por diversas vezes, sofri junto com a Rory em seus momentos conflituosos com o jornalismo.
Como na cena em que ela fica alguns minutos sozinha na varanda da Lane e passa rapidamente da comemoração ao pânico por conseguir o primeiro emprego como repórter, deixando toda a sua insegurança vir à tona em um ataque de ansiedade que a faz pensar que talvez não seja boa o suficiente. Quantas vezes já me senti assim?
Outro exemplo é estar prestes a terminar a faculdade, não saber o que o futuro lhe reserva, não ter para onde ir, nem saber o que fazer e sentir como se um grande abismo a esperasse logo ali na frente. Qualquer semelhança, não é mera coincidência.
![Gilmore Girls](https://gidelabeneta.wordpress.com/wp-content/uploads/2023/02/gilmore-girls-7-1.jpg)
Além disso, a dedicação aos estudos, a paixão compulsiva pelos livros (me identifico totalmente), o envio de dezenas de currículos aos mais diversos veículos de comunicação e todo o sacrifício para se tornar uma grande profissional, e no final das contas ter de voltar para casa e ser editora de um jornal local que nem salário paga. Existe tanta realidade na ficção…
![Gilmore Girls](https://gidelabeneta.wordpress.com/wp-content/uploads/2023/02/gilmore-girls-14.jpg)
Mas Rory e eu também sabemos o quão incrível é trabalhar com o que se ama. Ser paga para escrever, então, chega a ser inacreditável. Sem falar na inexplicável inspiração que nos toma por inteiros quando escrevemos sobre o que gostamos. É como se os deuses da escrita baixassem o Franz Kafka ou o próprio Nietzsche na gente. Obs.: só eu fiquei curiosa para ler o livro que a Rory estava escrevendo?
![Gilmore Girls](https://gidelabeneta.wordpress.com/wp-content/uploads/2023/02/gilmore-girls-12.jpg)
Ou seja, a série só confirma que mesmo se preparando para trilhar o caminho que sempre sonhou, seu destino está condenado ao acaso: quando tudo indica que algo vai acontecer, pode ocorrer justamente o contrário. Preparar-se para Harvard, e ir parar na Yale, por exemplo.
Confesso que essa evidência à imprevisibilidade é justamente o que mais gosto na série, pois é o que mais se assemelha à vida real.
![Gilmore Girls](https://gidelabeneta.wordpress.com/wp-content/uploads/2023/02/gilmore-girls-9.jpg)
Contudo, a pergunta que não quer calar: se eu escolheria outra profissão sabendo de todos os percalços que o jornalismo oferece? Não mesmo. Apesar de suas dores e delícias, seguiria escolhendo, honrando e amando a minha profissão. O jornalismo tem as suas glórias.
Só espero não chegar aos 32 anos da mesma forma que a Rory (rindo de nervoso).
Deixe um comentário